Estudo sobre a Reencarnação ou as Vidas Sucessivas

Capítulo Terceiro



1. Conforme o demonstramos em O Problema do Ser, capítulo XV – Os meninos-prodígio e a hereditariedade –, o caráter individual não se pode explicar unicamente pelas leis do atavismo e da hereditariedade. Se se encontram nos filhos, às vezes fortemente acentuadas, as qualidades ou os defeitos dos ascendentes, verificam-se também traços distintivos, que não podem provir senão de aquisições pessoais, anteriores ao nascimento. Os gêmeos são, não raro, de caracteres muito dessemelhantes e os meninos-prodígio possuem talentos que os pais não acusam.


Descartes, Leibniz e Kant tiveram uma certa intuição destes fatos, sobretudo Descartes, na sua teoria das idéias inatas; mas só o espiritualismo experimental contemporâneo pôde lançar luz sobre tais problemas.


2. A lei das reencarnações é conforme ao princípio de evolução, aclara-o e completa. Somente, em vez de lhe procurar a causa inicial na matéria, a coloca no espírito, livre e responsável, que por si mesmo constrói as formas sucessivas que revestirá para percorrer a escala magnífica dos mundos.


3. Na obra já citada expus as razões que tornam necessário e justificam o esquecimento das existências anteriores durante a nossa passagem pela Terra. Na maioria dos casos, a lembrança seria um entrave ao nosso progresso, uma causa de inimizade entre os homens. Perpetuaria, entre as gerações, os ódios, os ciúmes, os conflitos de toda ordem. A alma, depois de ter bebido a água do Letes, recomeça uma outra carreira, mais livre de construir a sua existência em um novo e melhor plano, liberta dos preconceitos, das rotinas, dos erros e dos rancores passados.


4. Todas as grandes religiões se hão baseado em a crença nas vidas sucessivas: o bramanismo, o budismo, o druidismo, o islamismo (ver Surate II, v. 26 do Alcorão; Surate VII, c. 55; Surate XVII, v. 52; Surate XIV, v. 25). O Cristianismo primitivo não abriu exceção à regra. Traços desta doutrina se nos deparam no Evangelho. Os Padres gregos Orígenes, Clemente de Alexandria e a maior parte dos cristãos dos primeiros séculos a admitiam (ver minha obra Cristianismo e Espiritismo, caps. III e IV e Nota 5). O Catolicismo julgou dever deixar na sombra esse ensino e substituí-lo pela teoria de uma vida única e pelo dogma das penas eternas, como mais eficazes para a salvação das almas e talvez mais ainda para a dominação da Igreja. Daí, acreditamos, a sua atual impotência para dar solução satisfatória ao problema da vida e do destino, uma das razões do seu enfraquecimento e da sua decadência.


FIM